Ontem chovia muito, como se fosse inverno em San Francisco. Eu olhei pela janela e vi gotas se espalharem no asfalto frio e refletirem a luz dos postes… vi minhas lembranças de um tempo perdido espalhadas assim em uma memória distante, também fria. As imagens repentinamente foram se aquecendo como se refletissem os sentimentos que saíam de mim naquela época. Fiquei com sede.
Depois do copo de água, vieram perfis de pessoas que há muito não vejo e das quais sinto falta. Isto portanto, não era uma saudade mas uma sede diante de um deserto de ausências. Esperei, portanto que o pensamento se dispersasse e buscasse um oásis escondido nesta paisagem tão seca, mas não foi esta a rota escolhida. Imagens de rios e lagos e mares… água, muita água mas não no deserto ou oásis depois do deserto. Aquele era um outro lugar, um outro tempo em que tudo em volta se movimentava e eu observava. Isto não era portanto, passado ou futuro. Eramos eu e minha insônia ali… procurando refúgios para que o sono se sentisse seguro e se aproximasse.
As vezes vejo o sono como um pequeno menino, magrinho, frágil e ao mesmo tempo um gigante que acolhe e abraça. A insônia tem várias faces: ela pode ser menina levada, uma mulher extremamente atraente e sedutora, muitas vezes esta mulher se torna a musa inspiradora e autora de muitos trabalhos criativos; mas a insônia é sempre feminina e intrigante e isto na minha opinião, afasta o menino, porque ele ainda tem medo. Assim quando a insônia se afasta ou acha um lugar seguro para o menino, ele vem nos acolhe e se torna o gigante que traz nossos sonhos.
O sono precisa do travesseiro, a insônia da cadeira… O sono esvazia a insônia preenche – o paradoxo portanto, é que o sono nutre, a insônia consome. Esvaziar nutrindo; prencher consumindo. Insônia e sono e sinto ainda a sua falta… Imagens do deserto… me vejo em seus braços. Me encolho, meus olhos fecham… acho que dormi.